quinta-feira, 19 de abril de 2012

CRM visita Escola Família Agrícola em Antonio Gonçalves-BA

O Centro de Referencia da Mulher proferiu nesta quarta-feira (18), uma palestra sobre gênero e violência na Escola Família Agrícola (EFA) com sede no município de Antonio Gonçalves. O CRM foi recebido de forma alegre ao som do pandeiro e do tambor. Dos 57 alunos que atualmente a Casa assiste 21 são do sexo feminino. Todos estavam presentes, juntamente com uma professora-monitora e quatro monitores-professores. O/as aluno/as participaram com questionamentos representativos de uma realidade social presenciada. Os professores demonstraram bastante interesse e convidou o CRM para um próximo retorno, “desta, vez para os pais dos alunos”, disse Agmário, coordenador da escola.


Ao final da palestra perguntei para os professores:

“Qual a contribuição da EFA no tocante à política para as mulheres, ou seja, qual é a contribuição da escola para as mulheres desta região na prevenção e enfrentamento da violência? Acrescentei: No que pode contribuir esta Escola para diminuir a violência contra as mulheres nesta região?

O coordenador da Escola pensou um pouco e respondeu: “Vou te responder somente depois que eu te mostrar toda a estrutura da Escola e como esta funciona.” Após o almoço seguimos a trilha da busca do conhecimento. No início, uma aula teórica sobre a escola, depois a prática do saber: a pocilga, o aviário, o capril, as hortas, a mandala, a forrageira, a vermecompostagem, as acomodações, o barreiro. UMA ESCOLA, UMA CIDADE RURAL.

As Escolas Agrícolas em modo geral são instituições de caráter comunitário gerida por uma associação de famílias, pessoas e entidades afins, com a missão de promover a formação integral de agricultores/as rurais, visando o desenvolvimento sustentável local, via educação por alternância. A Escola Agrícola de Antonio Gonçalves é uma Instituição Regional situada no Povoado de Caldeirão do Mulato, disto a pouco quilômetros da sede. Atende a jovens e adolescentes de ambos os sexos, a partir dos 10 anos de idade, especificamente alunos da 5ª a 8ª séries.

Por se tratar de uma instituição regional a oferta de vagas se estende a todos os municípios do Território Piemonte Norte do Itapicuru. Contudo, segundo informações dadas pelo então monitor-coordenador e professor, Agmário Nunes dos Santos, na escola só se encontram alunos dos municípios de Itiúba, Pindobaçu, Ponto Novo e Antonio Gonçalves.

A EFA funciona por 15 dias em tempo integral, alternando os outros 15 dias com a visita dos alunos aos familiares em suas respectivas localidades de origem. Ao final do curso o/as aluno/as precisam apresentar um projeto prático de sustentabilidade econômica local que garanto o sustento da família. A continuação do curso (nível médio) é feito em Monte Santo na Bahia, uma cidade próxima.

Ainda de acordo com as informações fornecidas pelo multi Agmário, a EFA possui na sua estrutura administrativa:

• 02 professores com 20 hs semanais cada (1 de geografia e outro de matemática), os quais são mantidos com recursos das Prefeituras parceiras de Senhor do Bonfim e Antonio Gonçalves;

• 01 técnico Agrícola (ministra as aulas teóricas e práticas e monitoria);

• 06 monitores, mantidos pela Prefeitura de A. Gonçalves para trabalharem 20 hs semanais cada,

• 02 cozinheiros,

• 01 caseiro.

Na infraestrutua a escola possui:

• 01 refeitório,

• 03 salas de aula,

• 02 dormitórios (masculino separado do feminino),

• 02 casas para os monitores,

• 01 sala multiuso (escritório, biblioteca, laboratório de informática, sala de reunião e sede da Associação),

• 01 casa para o caseiro e sua família,

• 01 galpão (que também funciona como garagem),

• 01 cabana (quiosque), a qual é utilizada como sala para ministro das aulas da 8ª série.



Projetos de geração de Renda:

• 01 Padaria (foi terceirizada por falta de suporte humano/demasiada carga de trabalho),

• Aviário,

• Pocilga (das 06 baias que compõem a estrutura, 04 estão vazias),

• 01 capril;

• Hortas,

• 01 horta mandala.

Parceiros governamentais:

Prefeituras Aquisição

A. Gonçalves 60 h/aulas em monitoria, 7 botijões, parte da alimentação e 200 L combustível

Campo Formoso Parte do material pedagógico

Pindobaçu Condução dos 08 estudantes

Senhor do Bonfim 20 h/aulas professor



Acontece que os monitores só são ressarcidos para trabalharem 20 hs/aula, no entanto triplicam a jornada de trabalho para manterem a escola funcionando. O caseiro é sustentado pela família que recebe o benefício do Programa Bolsa Família. Os cozinheiros e as 40 hs/aulas restantes dos monitores só são pagas quando a escola recebe doações ou quando da indenização das parcelas que são pagas pelo Estado.

Segundo Egmário, os monitores são ao mesmo tempo diretor, vice-diretor, coordenador, secretário e professores. Estes se levantam todos os dias às 5:40hs da manhã e vão dormir às 22 hs, ininterruptamente, depois de acomodar todos o/as alunos/as; isto quando não ficam até à meia-noite preparando aulas para o dia posterior. A escola possui 11 cisternas de abastecimento de água, mas a seca impediu o fornecimento de água encanada de um barreiro próximo que secou.

“a escola não tem água encanada da Embasa, então neste Período de seca o barreiro secou. A prefeitura de Antonio Gonçalves está colocando água no carro pipa e o restante nós temos que comprar para alimentar os animais, beber e tomar banho. A escola não possui em seu quadro de funcionários ninguém para exercer a função de serviços gerais, então o/as aluno/as fazem este papel de bom grado. No período de alternância das aulas, 05 aluno/as permanecem na escola para mantença da limpeza e o rodízio se segue no ciclo seguinte. Assim mantemos a escola limpa e bem cuidada.” (Egmário).



A escola não dispõe de motorista, então todos os monitores emprestam sua habilitação em prol da continuidade dos serviços: mãos, pra que te quero? A escola não tem vigilante, então os monitores revezam a função de guardiões. As monitoras dormem com as meninas e os monitores com os meninos, assim evitam que estes e aquelas “fujam” à meia-noite noite de lua cheia. O restante da vigília fica por conta de um cão bem mansinho!

Bem ao meio da cidade de 81 hectares, fica uma linda cabana, feita de palha, como manda o figurino, se não fosse o uso que se faz do pulcro quiosque: sala de aula para o/as aluno/as da 8ª série. Motivo: falta de salas.

Por falta de água a cadeia alimentar se quebrou: na dieta não se encontra mais as verduras frescas e produzidas no local, também não há mais galinhas no processo de postura, os pintinhos ainda vão crescer. As hortas orgânicas estão desativadas e a horta mandala construída para criação de patos e peixe está seca, as hortaliças em seu redor não existem mais. Até as abelhas desapareceram: falta mel porque falta flor. A pocilga tinha seis matrizes e dois reprodutores agora só tem um de cada e 06 porquinhos.
Os desafios são tantos que “eu”, os chamei de “ousados”, verdadeiros heróis do sertão.

A máquina forrageira está parada, mas a vermecompostagem estava lá, de vento em polpa, o/as aluno/as preparando o composto. A seca não desanimou o/as bravo/as guerreiro/as. Acreditam em dias de chuva eminentemente vindouros: o barreiro limpo pelo trator, a cisterna de água de produção, com capacidade para 56 mil litros, recém aprontada, à espera da chuva, os canais de decantação estão todos limpos, sem nenhuma folha seca para não atrapalhar o escoamento das águas da chuva, a estrada de chão batido que liga os projetos, está varrida a vassoura, tudo limpinho, pronto, só falta chuva para a abundância florescer de novo. O campo de futebol também faz parte da vivacidade da rapaziada. No final da visita ao campo, o professor que nos acompanhou perguntou: Agora me responda, qual é a contribuição desta escola na prevenção da violência doméstica? Eu, nada respondi...

Feliz aquele/a que sabe fazer dos espinhos, folhas modificadas para sua própria adaptação!

Maria José Alves

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