Em mais de 45 cidades, apenas mulheres disputam as
prefeitura; número de candidatas subiu 85% - Regina Ramos da Silva ficou surpresa ao descobrir que iria
disputar com outra mulher a prefeitura de Joaquim Pires, cidade de 13 mil
habitantes no interior do Piauí.
'Depois que anunciei minha candidatura, a oposição também
escolheu uma mulher. Acho que é porque mulher na prefeitura é algo novo e o
pessoal sempre se empolga com novidade', diz a candidata do PT, que concorre
com Cintia Ramos da Cunha, do PMDB.
Além de Joaquim Pires, ao menos outras 45 cidades no Brasil
terão eleições onde só mulheres concorrem à prefeitura - na eleição de 2008,
eram 32. Esse tipo de disputa ilustra bem um novo cenário na política
brasileira: a participação feminina nas eleições municipais cresceu 85% em
relação à votação de 2008.
Na eleição que marca os 80 anos do voto feminino no Brasil, a
participação das mulheres cresceu, de um lado, devido a uma nova lei de cotas
e, de outro, por um cenário favorável que envolve a eleição de Dilma Roussef, a
primeira presidente do país.
Criada em 1995, a Lei de Cotas de Gênero sofreu uma alteração
em 2009 e agora obriga os partidos a ter um mínimo de 30% de mulheres em suas
chapas parlamentares. Antes, a legislação obrigava as legendas a 'reservar' as
vagas, enquanto agora é preciso 'preenchê-las'.
'A alteração pode parecer pequena, mas a troca do verbo significou uma mudança no sentido de forçar os partidos a dar maiores oportunidades para as mulheres', afirma o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor de Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do IBGE.
'A alteração pode parecer pequena, mas a troca do verbo significou uma mudança no sentido de forçar os partidos a dar maiores oportunidades para as mulheres', afirma o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor de Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do IBGE.
'O ideal seria a paridade de gênero, mas diante do baixo
número de candidatas, a mudança já representa um avanço, mesmo que limitado. O
resultado já pode ser visto nos números de candidaturas.'
Novo cenário
Além da lei de cotas, uma nova realidade do país também vem
contribuindo para a ascensão das mulheres na política.
A eleição de Dilma e o fato da então candidata Marina Silva
(PV) ter obtido quase 20% dos votos no primeiro turno impulsionaram esse novo
cenário.
'Depois que a Dilma foi eleita, as mulheres se encorajaram
mais e a sociedade passou a nos enxergar com outros olhos', afirma Jalmira
Maria Silva Ghanem (PT). Ela é candidata à prefeitura de Montividiu (GO), onde
suas duas concorrentes também são mulheres.
O cientista político Milton Lahuerta, que é coordenador do
Laboratório de Política e governo da Unesp, acredita, porém, que esse é um
processo mais profundo, que começa bem antes da eleição de Dilma.
'A afirmação da mulher no Brasil, que começou com a revolução
cultural dos anos 70, já ocorre em áreas como o mercado de trabalho, com
grandes empresas sendo chefiadas por mulheres, e agora finalmente chega à
política.'
Apesar do avanço, a participação feminina na política ainda é
tímida se comparada a outros países mundo afora.
O demógrafo José Eustáquio lembra que o Brasil ocupa um dos
últimos lugares em um ranking de paridade de gênero, compilado pela
Inter-Parliamentary Union, uma organização que reúne representantes de
parlamentos em todo o mundo e que ocupa o cargo de observador permanente da
ONU.
Com 52% do eleitorado formado por mulheres, o Brasil possui
apenas 9% de deputadas federais, um média bem inferior ao percentual mundial
(20,3%). No topo do ranking organizado pela organização estão Ruanda em
primeiro lugar, com 56,3% (único país com maioria feminina na política),
seguindo de Andorra (50%), Cuba (45,2%) e Suécia (44,7%).
No final da lista, junto com o Brasil (120º) estão países
como Panamá (121º), Benin (122º) e Gana (123º). Arábia Saudita e Catar estão na
última posição (144º).
No senado, são apenas 10 mulheres entra 81 membros, ou seja,
12% - contra, por exemplo, 38% na Argentina. Entre os vereadores, após a
eleição de 2008, o total de mulheres chegou a 12,5% e entre os prefeitos,
apenas 10%.
Fonte: BBC Brasil
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