Iniciativa é resultado de uma parceria entre a UNAIDS, União
Europeia, UNFPA e ONU Mulheres. Inéditos, filmes da campanha estão disponíveis
em português, inglês, espanhol e, pela primeira vez, em tikuna, idioma de 30
mil indígenas brasileiros.
Segundo dados do Governo Federal, estima-se que mais de 630
mil pessoas vivam com HIV/Aids no Brasil. A cada 5 minutos, uma mulher é
agredida no país; a cada 2 horas, uma mulher é assassinada. Em 80% dos casos, o
agressor é o marido, companheiro ou namorado. O eixo Violência e HIV, segunda
edição da campanha Mulheres e Direitos no Brasil, é o resultado de uma parceria
entre a UNAIDS – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ Aids, a União
Europeia, o UNFPA – Fundo de População das Nações Unidas, e a ONU Mulheres – a
Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das
Mulheres. A campanha conta ainda com o apoio da Presidência da Câmara dos
Deputados para o lançamento – que acontece hoje, a partir das 16h30, em
Brasília, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados.
“De modo similar à violência homófobica, a violência
contra a mulher é inaceitável e deve ser coibida. Além de violar direitos
humanos básicos, em ambas as circunstâncias, é fator acrescido de
vulnerabilidade à infecção pelo HIV. A existência de norma legal é necessária,
mas não suficiente, para que se possa alcançar um ambiente social favorável; é
imprescindível a mobilização de modo permanente de toda a sociedade com vistas
ao alcance desse objetivo”, afirma Pedro Chequer, coordenador da UNAIDS no
Brasil.
Com o objetivo principal de contribuir para a
conscientização da população brasileira sobre redução da violência contra a
mulher, promoção da equidade de gênero e da saúde feminina, serão apresentados
durante o evento os produtos de divulgação da campanha: spots de rádio, folder,
DVDs, painéis de pano e filmes para TV. O material estará disponível em
português, inglês, espanhol e, pela primeira vez, também em tikuna – idioma
indígena falado por mais de 30 mil pessoas no Brasil.
Um estudo realizado pela iniciativa Amazonaids,
iniciativa da ONU e governo brasileiro, na área indígena do Alto Solimões e
Vale do Javari examinou mais de 20 mil indígenas. Foi encontrada uma taxa de
prevalência de sífilis de 2,3% e de HIV de 0,13%.
“Pela primeira vez temos uma campanha com uma versão em
tikuna. Esta decisão repousa na perspectiva de respeito aos direitos de
cidadania; os povos indígenas devem ser cada vez mais objeto de respeito
cultural e pleno exercício do direito à informação em seu próprio idioma.
Materiais educativos em HIV também vêm sendo elaborados pela UNESCO em outros
idiomas de povos indígenas do Alto-Solimões”, diz Chequer.
Inspirados em casos reais, foram criados três filmes
para divulgação: o mais longo com 2 minutos de duração e os outros dois, com
27” e 30”.O filme de 2 minutos é mais abrangente, mostrando situações
conceituais e depoimentos alternados de mulheres e homens. Nos filmes de menor
duração, os enfoques são separados por gênero. Os áudios dos filmes também
foram adaptados para veiculação em rádio.
Após destacar que a campanha é co-financiada pelo
Instrumento Europeu para a Promoção da Democracia e os Direitos Humanos
(IEDDH), a expressão mais visível do compromisso da União Europeia com a
promoção e proteção dos direitos humanos, a Embaixadora
Ana Paula Zacarias, Chefe da Delegação da União Europeia no Brasil, afirmou que
"em 2011 demos prioridade à luta contra a violência às mulheres, às
crianças e adolescentes, e às populações vulneráveis, entre as quais as
populações indígenas. A nossa maior preocupação foi desenhar uma campanha
que tivesse impacto local, chegando às comunidades mais afastadas e
carentes,salientando os aspetos transversais da violência contra a mulher, como
as doenças sexualmente transmissíveis, notadamente o HIV/AIDS. Este tipo
de ação conjunta e direcionada se torna imprescindível no âmbito do combate à
violência de gênero".
Além do folheto informativo, que será distribuído para
todos os estados brasileiros, a campanha Mulheres e Direitos inovou ao criar,
imprimir e produzir mil painéis em pano com mensagens em português para
divulgação. O projeto conta ainda com uma tiragem de 200 painéis de pano na
língua tikuna.
Sobre violência contra
a mulher
“A campanha Mulheres e Direitos é uma resposta ao desafio da
violência contra a mulher, que persiste no nosso cotidiano como a face mais
visível e perversa das desigualdades de gênero. Podemos e devemos contribuir
para a construção de novas masculinidades, onde as diferentes formas de
violência não sejam usadas pelos homens como instrumento de poder. Todas as
mulheres e meninas têm direito a uma vida livre de violência e todos os homens
e meninos podem ser educados a agir e a pensar diferente. Esperamos que a
campanha estimule a reflexão e a mudança de atitudes e práticas”, diz Harold
Robinson, Representante do UNFPA no Brasil.
Violência é o ato de agressão, ou mesmo a omissão que causa
sofrimento físico ou psicológico à vítima. A violência contra a mulher pode
acontecer em qualquer lugar, na rua ou em casa, no espaço público ou no espaço
doméstico, e pode atingir mulheres dentro e fora da família. A violência contra
a mulher não é praticada somente por meio de agressão física, como tapas,
socos, pontapés, chutes, etc. Existe também violência psicológica, moral,
patrimonial e sexual.
A violência sexual pode ocasionar gravidez indesejada e
abortos espontâneos, aumentando o risco de infecção por doenças sexualmente
transmissíveis e pelo HIV. A violência ou mesmo o medo da violência contra a
mulher aumenta sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV/AIDS e outras doenças
sexualmente transmissíveis. O temor de sofrer violência pode fazer com
que a mulher se submeta a relações sexuais desprotegidas.
A violência contra a mulher produz consequências emocionais
devastadoras, muitas vezes irreparáveis, e impactos graves sobre a saúde mental
sexual e reprodutiva da mulher.
Quando a violência é praticada em casa, por familiares, por
pessoas que convivem no mesmo ambiente doméstico – mesmo que não sejam parentes
(ex. agregados, hóspedes, etc.) – ou pelo marido, companheiro ou companheira, a
mulher agredida terá a proteção da Lei 11.340, que ficou conhecida como “Lei
Maria da Penha”.
“No Brasil, uma em cada cinco mulheres já foi vitima de
violência de gênero. De 1997 a 2007, mais de 41 mil mulheres foram
assassinadas. Entretanto, não há estatísticas confiáveis disponíveis. Com a Lei
Maria da Penha, o governo brasileiro deu um importante passo, mas o sistema de
justiça brasileiro reconhece de forma irregular a gravidade da violência
doméstica e familiar. Apenas um terço dos casos que chegam aos tribunais é
condenado, e a impunidade ainda é um problema crítico. Por isso precisamos
trabalhar continuamente para conscientizar a sociedade sobre a importância de
erradicar a violência contra as mulheres e de proteger os direitos de todas as
mulheres brasileiras”, diz Rebecca Tavares, Representante e Diretora Regional
da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul.
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